I.
INTRODUÇÃO GERAL
Depois
da experiência sinodal (1994-1997), da caminhada
de preparação para o Grande Jubileu (1997-2000)
e da celebração do Jubileu da Encarnação
(2000-2001), vivemos um "ano de paragem, de pausa,
procurando consolidar algumas estruturas da diocese e
do arciprestado" e, simultaneamente, marcado pela
preocupação em formar agentes de pastoral.
Todos reconhecemos, no entanto, que há ainda muita
dificuldade em verificar e avaliar se os objectivos propostos
foram minimamente alcançados (cfr. Programa Pastoral
2000/2001, pg. 2, alínea e).
Concluídas as celebrações jubilares,
João Paulo II, no seu estilo incansável,
não quis perder tempo; na linha da proposta para
a preparação do Grande Jubileu, escreveu-nos
a Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte (NMI),
na qual, ao mesmo tempo que desafia a Igreja a viver num
novo dinamismo, propõe "uma eficaz programação
pastoral pós-jubilar" (NMI 15). O Ano Santo
é ponto de partida para um vigoroso empenho de
evangelização.
1. Partir de Cristo
A
proposta do Papa é claramente cristocêntrica,
consequência, aliás, de todas as actividades
e iniciativas jubilares. Fez-se memória de Cristo,
fundamento, centro e meta da nossa história, celebrando
a Sua Encarnação. Agora é tempo de
profecia. O acontecimento recordado e o modo como foi
vivido deve "suscitar em nós um dinamismo
novo, que nos leve a investir em iniciativas concretas
aquele entusiasmo que sentimos" (NMI 15): partir
de Cristo, enraizados na oração e na contemplação,
para falar e mostrar Cristo aos homens e mulheres de hoje.
"Não é porventura a missão da
Igreja reflectir a luz de Cristo em cada época
da história, e por conseguinte fazer resplandecer
o seu rosto também diante das gerações
do novo milénio?"(NMI 16).
2. A escolha pastoral de uma prioridade
Também
nós, como Igreja local empenhada em anunciar "o
mistério de Cristo, fundamento absoluto de toda
a nossa acção pastoral" (NMI 15), não
podemos deixar de nos sentir interpelados.
Queremos assumir o projecto, mais do que nunca necessário,
de uma nova evangelização. É dentro
deste contexto que surge e ganha sentido a opção
tomada para orientar a acção pastoral nos
próximos anos. Durante os próximos três
anos, a Igreja de Braga irá abraçar um novo
projecto, tendo definido para esse período de tempo
uma prioridade: a pastoral dos jovens. Por isso este ano
apresentamos simultaneamente um plano pastoral e uma programação
pastoral. O plano tem um carácter mais amplo, a
médio prazo, e será desenvolvido durante
os próximos três anos. A programação,
sem ser rígida, é já bastante mais
concreta.
Isto não significa deixar de lado tudo o resto.
Definir uma prioridade não é sinónimo
de exclusão, mas forte desafio à comunhão.
3. Onde pretendemos chegar?
A
acção eclesial que realizamos com e para
os jovens é, no presente, feita sobretudo de iniciativas
dispersas e ocasionais. Grandes acontecimentos, momentos
extraordinários são sempre importantes;
contudo, falta o quotidiano, o ferial (família,
escola, trabalho, relações de amizade),
como lugar de uma contínua integração
entre a fé e a vida.
Ontem como hoje deparamo-nos com dificuldades em trabalhar
com os jovens: onde encontrar material que permita um
itinerário de crescimento na fé que seja
orgânico e integral? Onde encontrar animadores/educadores
minimamente preparados para acompanhar os jovens? Como
dar resposta às situações reais vividas
pelos jovens?
E as comunidades cristãs? Quantas sentem como sua
a missão de acompanhar de perto os jovens? Ou é
preferível delegar num jovem presbítero
ou num voluntarioso educador essa missão? Qual
imagem de Igreja que transmitimos? Apenas aquela - teórica
- que se aprende numa reunião?
Será que seremos capazes de pensar uma pastoral
de jovens completamente coordenada, numa articulação
entre todos os grupos e movimentos, departamentos e agentes
de pastoral de jovens e outras instâncias educativas?
Uma acção eclesial atenta a todos os ambientes
e corajosa na sua proposta?
A proposta que agora apresentamos não pretende
dar origem a um catecismo para jovens. Ao longo deste
percurso, a nossa atenção concentrar-se-á
na análise, discernimento e avaliação
da situação humana, social, cultural e religiosa
dos nossos jovens. Após esta fase, faz sentido
tomar uma decisão e traçar linhas de acção
para o futuro. Não queremos dar respostas a perguntas
que não existem!
PLANO
PASTORAL 2001 - 2014
1. Introdução
O
presente plano de acção pastoral tem como
base central a Mensagem dos Bispos de Portugal aos Jovens
Católicos na sequência da XV Jornada Mundial
da Juventude (Fátima, 16 de Novembro de 2000),
eco do Jubileu dos Jovens e das palavras de João
Paulo II proferidas nessa ocasião.
Este plano, previsto para três anos, dará
origem a orientações diocesanas, de carácter
geral, com as quais se há-de projectar e programar
a pastoral de jovens ao longo de um decénio, ajustadas
às condições de cada estrutura de
pastoral de jovens.
2. 2001 - 2002: "Quem procurais?" (Cf.
Jo 20, 15)
"Sentinelas da manhã: conhecer
e analisar"
"Quem procurais? Não vos foi perguntado: 'O
que é que procurais?' Essa é a tentação
de muitos jovens do nosso tempo, de gastar as suas energias
e esgotar as suas iniciativas em busca de coisas deste
mundo, de situações materiais, de um futuro
efémero, de uma felicidade precária, não
percebendo procurar uma Pessoa, Jesus Cristo.
O vosso cristianismo, queridos jovens, não pode
basear-se apenas numa tradição: tem de alicerçar-se
neste encontro pessoal com o Senhor" (Mensagem dos
Bispos..., 2).
Dar
resposta a esta questão inicial implica um profundo
conhecimento da realidade dos jovens. Todos são
importantes neste caminho: católicos, cristãos,
ou de qualquer outra vivência religiosa.
O que procuram os jovens? Qual é o seu caminho
de fé? Como se aproximam da Igreja? Como os cativamos?
Que testemunho lhes apresentamos? Que desafios estamos
dispostos a assumir?
Muitas outras interrogações podem ser suscitadas.
Importa não perdermos o sentido da nossa responsabilidade
como comunidades cristãs: acolher, educar na fé,
caminhar com... Nestas, o núcleo central de acção
pastoral há-de ser sempre o Conselho Pastoral Paroquial,
expressão da comunhão na Igreja. Dentro
do novo paradigma de Igreja, proposto pelo Vaticano II,
o Conselho Pastoral é um instrumento para realizar
essa comunhão e o seu funcionamento (e até
mesmo a sua ausência) é reflexo dessa comunhão.
É lugar onde se exprime e realiza a corresponsabilidade
eclesial; espaço de circulação de
informação (comunicação),
de reflexão comum, de elaboração
de projectos pastorais e, por isso, espaço do consenso,
no qual a escuta (da voz do Espírito; da voz dos
homens) e o diálogo são atitudes essenciais
(mais do que uma votação por maioria) para
o discernimento e a decisão sobre as opções
pastorais.
Numa outra dimensão, ainda que complementar, precisamos
de definir as competências e prioridades de todos
os agentes de pastoral de jovens. A elaboração
de orientações concretas será enriquecimento
para um contributo sério na busca da resposta para
a interrogação inicial: "Quem procurais?".
3. 2002 - 2003: "Vós quem dizeis que
Eu sou?" (Mt. 16, 15)
"Laboratório da Fé"
"Vós quem dizeis que Eu sou? Jesus faz esta
pergunta aos discípulos que já O tinham
seguido. A eles Jesus quer revelar mais intimamente o
Seu mistério. Ele sabe que só assim, conhecendo-O
profundamente e aprendendo a amá-l'O, eles continuarão
a segui-l'O. [...] Este é, queridos jovens, o processo
de crescimento na fé. Nele entram muitos elementos:
a revelação de Deus, as nossas dúvidas
e hesitações, a exigência de viver
de acordo com a palavra do Senhor, respondendo ao amor
que nos tem, os acontecimentos da nossa vida, que vão
exigindo resposta de coerência cristã. A
todo este processo o Santo Padre chama, simbolicamente,
o 'laboratório da fé'. [...] Não
há maturidade da fé sem acreditar que Jesus
está vivo e sem mergulhar na vida nova do ressuscitado"
(Mensagem dos Bispos..., 3).
Dizer quem é Jesus Cristo é, primeiramente,
abrir-se ao conhecimento da Sua Pessoa. Não é
algo ou alguma coisa. Trata-se de uma Pessoa concreta.
Essa Pessoa é o próprio Deus feito ser humano.
E vós (jovens) quem dizeis que é Jesus Cristo?
A análise e reflexão sobre os dados recolhidos
no primeiro ano (2001-2002) permitir-nos-á conhecer
respostas dadas a esta questão.
O conhecimento sobre a realidade é já na
sua análise uma leitura iluminada com critérios
de fé. Este discernimento acerca da relação
com Cristo (resposta dada) conduzirá ao encontro
com a Sua Pessoa. Na verdade, Ele não viveu no
tempo! Vive! "Certamente não nos move a esperança
ingénua de que possa haver uma fórmula mágica
para os grandes desafios do nosso tempo; não será
uma fórmula a salvar-nos, mas uma Pessoa, e a certeza
que Ela nos infunde: Eu estarei sempre convosco até
ao fim do mundo! (Mt. 28, 20)" (NMI, 29).
Conhecer a Pessoa é amá-la e deixar-se amar
por ela. Este processo de crescimento na fé faz
perceber a importância de Cristo nas opções
pessoais que fazemos ("laboratório da fé").
Optar por Cristo significa viver com Ele. "O encontro
pessoal com Cristo ilumina a vida com uma nova luz, orienta-nos
pelo bom caminho e leva-nos a ser suas testemunhas. O
novo modo de ver o mundo e as pessoas, que d'Ele nos vem,
faz-nos penetrar mais profundamente no mistério
da fé, que não é simplesmente um
conjunto de enunciados teóricos para serem acolhidos
e ratificados pela inteligência, mas uma experiência
a assimilar, uma verdade a ser vivida, o sal e a luz de
toda a realidade" (Mensagem de João Paulo
II para o XVII Dia Mundial da Juventude, 3).
Esta vida em Cristo, caminho permanente de crescimento,
ganha em sentido quando inserido numa comunidade concreta,
expressa na realidade da Igreja. "A aventura da fé
é um caminho que não se percorre sozinho.
[...] A Igreja é esse rio caudaloso de vida que
atravessa os séculos, em cuja corrente mergulhamos,
enriquecendo-a para um futuro novo" (Mensagem dos
Bispos..., 7). Urge descobrir esta força de pertencer
a uma comunidade de fé.
Na Igreja, comunidade de crentes, a corresponsabilidade
e a comunhão não são uma opção.
Estes princípios expressam-se visivelmente na acção
e nas estruturas concretas (Conselho Diocesano, Departamento
Diocesano, Conselhos Arciprestais, Equipas Arciprestais,
Equipas de Zona, Grupos Paroquiais). "Cada Diocese,
com o seu Bispo à frente, é o espaço
apropriado para pensar e dinamizar a pastoral juvenil"
(Mensagem dos Bispos..., 9).
4. 2003 - 2004: "Senhor, para quem devemos
nós ir? Tu tens palavras de vida eterna" (Jo.
6, 68)
"Descoberta de um caminho de santidade,
na Igreja"
"No Evangelho esta pergunta situa-se num momento
particularmente exigente na decisão de continuar
a seguir Jesus: aceitar o discurso de Cristo, verdadeiro
pão da vida, o mistério da Eucaristia. [...]
O mistério da Eucaristia surge como a questão
crucial e decisiva de uma caminhada de fé. [...]
A vossa adesão a Jesus Cristo só será
definitiva se experimentardes encontrá-l'O na Eucaristia,
sinal da Sua presença e do Seu amor até
ao fim" (Mensagem dos Bispos..., 4).
O percurso efectuado neste projecto de acção
pastoral há-de exigir a definição
de propostas capazes de responder às necessidades
dos jovens. De facto, o conhecimento cada vez mais profundo
de Cristo exige a elaboração de um itinerário
formativo que proporcione uma aprofundamento doutrinal,
uma experiência de oração e de serviço
aos irmãos. Noutros casos (naqueles que ignoram
Jesus Cristo, os conteúdos mínimos da fé...),
temos de ser ousados no imaginar formas e inventar caminhos
de levar ao conhecimento da Pessoa de Jesus Cristo (cfr.
Mensagem dos Bispos..., 9).
Em todas as circunstâncias, este caminho terá
sempre em consideração "o realismo
da vida dos jovens de hoje, [apoiado] no seio das realidades
da sua existência, ajudando-os a reagir aos acontecimentos
com discernimento cristão" (Mensagem dos Bispos...,
9).
A presença de Cristo na vida dos crentes (também
dos jovens) manifesta-se primordialmente no encontro eucarístico.
A Eucaristia é escola semanal da fé, donde
podemos haurir os frutos do amor de Cristo. Ele ama cada
um de maneira pessoal e única. Responder a este
amor, deixar-se preencher pelos seus frutos, é
tornar-se disponível para percorrer o caminho que
conduz à santidade, conscientes sempre das suas
dificuldades. Esta intensa relação tem como
consequência que o discípulo viva como viveu
o Mestre. Só assim surgirá o verdadeiro
discípulo, que leva a ver em Cristo o Senhor, a
acreditar na Sua Pessoa e a proclamar, na simplicidade
da vida, a Sua presença.
A pastoral de jovens orienta-se dentro desta perspectiva
vocacional. Ela torna-se completa e eficaz quando se abre
à dimensão vocacional. A pastoral de jovens
é vocacional e aponta para metas altas. A vocação
à santidade é oferecida a todos, sem excepção.
"É um compromisso que diz respeito não
apenas a alguns, mas 'os cristãos de qualquer estado
ou ordem são chamados à plenitude da vida
cristã e à perfeição da caridade'"
(NMI, 30).
No final, outra não pode ser a nossa opção
pastoral . "Em primeiro lugar, não hesito
em dizer que o horizonte para que deve tender todo o caminho
pastoral é a santidade. [...] Apontar a santidade
permanece de forma mais evidente uma urgência pastoral.
[...] Na verdade, colocar a programação
pastoral do signo da santidade é uma opção
carregada de consequências" (NMI, 30-31).
5. 2004 - 2014: Implementação das
Orientações Diocesanas para a Pastoral de
Jovens
"Servos da Palavra"
"Alimentar-nos da Palavra para sermos 'servos da
Palavra' no trabalho da evangelização: tal
é, sem dúvida, uma prioridade da Igreja
no início do novo milénio. [...] Quem verdadeiramente
encontrou Cristo, não pode guardá-l'O para
si; tem de o anunciar. [...] O cristianismo do terceiro
milénio deverá responder cada vez melhor
a esta exigência de inculturação.
[...] Cristo há-de ser proposto a todos com confiança.
A proposta seja feita aos adultos, às famílias,
aos jovens, às crianças, sem nunca esconder
as exigências mais radicais da mensagem evangélica.
[...] Ao recomendar tudo isto, penso particularmente na
pastoral juvenil" (NMI, 40).
"No actual contexto de secularização,
quando muitos dos nossos contemporâneos pensam e
vivem como se Deus não existisse ou deixam-se atrair
para formas irracionais de religiosidade, é necessário
que precisamente vós, amados jovens, reafirmeis
a fé como uma decisão pessoal que compromete
toda a existência. Que o Evangelho seja o grande
critério que guia as opções e os
rumos da vossa vida! Tornar-vos-eis assim missionários
por gestos e palavras e, por todo o lado onde trabalhardes
e viverdes, sereis sinal do amor de Deus, testemunhas
credíveis da presença amorosa de Cristo.
Nunca esqueçais: 'Não se acende a candeia
para a colocar debaixo do alqueire' (Mt. 5,15)!"
(Mensagem de João Paulo II para ..., 3).