Linhas Fundamentais
da Pastoral Juvenil
A Equipa
Arciprestal apresentou numa reunião do clero do nosso arciprestado o seguinte
documento, que julgamos ser do interesse de todos os agentes da pastoral
juvenil.
"Acção
da Igreja junto dos jovens para que descubram, sigam e anunciem Jesus Cristo
dentro de comunidades concretas, em ordem a uma maturidade tal que os capacite
para optar vocacionalmente na Igreja, por um dos estilos de vida (laical,
religioso, sacerdotal) e a comprometer-se historicamente na libertação integral
das pessoas e das sociedades, chegando a uma vida de comunhão e de
participação".
Desta
definição podemos ressaltar:
·
acção da Igreja;
·
etapas: descoberta, experiência e anúncio;
·
em grupos concretos;
·
maturidade em ordem a um discernimento vocacional;
·
compromisso eclesial e social;
·
vida de comunhão.
"Anunciar
aos jovens o Cristo vivo, como único Salvador, para que, evangelizados,
evangelizem e pela sua resposta de amor a Jesus Cristo, contribuam para a
libertação integral das pessoas e das sociedades, transformando o meio, levando
a uma vida de comunhão e de participação em Igreja."
A Igreja
pós-conciliar fez uma opção histórica por um processo de Iniciação. João
Paulo II, na Catechesi Tradendae fala de "uma iniciação cristã
integral, aberta a todas as esferas da vida cristã (n.º 21). D. Borobio afirma
que o problema fundamental da Igreja não está no Baptismo ou na Confirmação mas
"se existe um projecto coerente de iniciação no qual baptizar e confirmar
tenham o seu pleno sentido"
Mas, há
que fazer a opção por uma iniciação à Comunidade em alternativa a uma iniciação
aos Sacramentos.
Hoje
fala-se não só numa iniciação cristã mas também numa reiniciação cristã, nova evangelização
ou reevangelização. Orienta-se para os baptizados, afastados, não praticantes
ou indiferentes para que personalizem a fé que inconscientemente receberam.
A Igreja
tem vindo a propor uma metodologia catecumenal:
·
"O modelo de toda a catequese é o catecumenado
baptismal" (MPD, 8);
·
"Pouco a pouco toma-se consciência da necessidade de
que, hoje, o processo de catequização tenha uma inspiração catecumenal"
(Sínodo 77, 30).
·
"As condições actuais tornam cada dia mais urgente
uma catequese com metodologia catecumenal para um grande número de jovens e
adultos" (EN, 44).
Linha de
força do processo catecumenal: "A Igreja actua sobre o iniciado através da
proclamação da Palavra de Deus; este responde recorrendo a um caminho de
conversão e de integração à Igreja; todo o caminho é celebrado e
assinalado por ritos que desembocam em sacramentos.
Ele
funda a primeira comunidade. Escolhe e reúne um pequeno grupo de discípulos: o
grupo dos "Doze". Jesus preocupa-se com a formação dos seus
discípulos, insiste na união e na formação de um autêntico grupo e de uma
autêntica comunidade. Jesus inculca-lhes atitudes de serviço (Mc 10, 41-44),de
interesse mútuo (Mt 18, 15-18), de perdão (Mt 18, 21-22) e de amor mútuo (Jo
13, 34-36).
Jesus
começa a sua missão como enviado do Pai. Traz uma mensagem de salvação. Tem um
grupo de seguidores que vivem em comunidade os valores do Reino (gratuidade,
prioridade ao ser humano, espírito de oração e renúncia de domínio)
A pessoa
começa a sê-lo no encontro com o outro. Ao descobrir o outro, descobre-se a si
mesma. É na relação interpessoal que a pessoa se vai realizar.
Não há
grupos sem pessoas, mas a pessoa sendo um ser sociável, não se realiza sem o grupo,
sem a relação interpessoal. Em grupo aceitam-se os valores pessoais dá-se lugar
ao diálogo e à partilha.
Afectividade
(Amar e ser amado).
A evolução
afectiva faz parte integrante do amadurecimento pessoal. O pleno
desenvolvimento de uma afectividade equilibrada, só é possível no
relacionamento directo com os outros , na intimidade, no dar e receber.
Utilidade
(Produzir e sentir-se útil.)
Desenvolver-se
como pessoa implica exercitar as próprias qualidades, expressar tudo aquilo de
que cada um é capaz, sentir-se útil para os outros.
Autenticidade
(ser o próprio)
A
realização pessoal autêntica implica: o superar de inibições, o abandono das
"máscaras", deixar as" aparências" para que cada um se
mostre com total sinceridade, transparência, naturalidade e espontaneidade,
para isso é necessário um clima de confiança mútua.
Sentido
da vida (compreender e dar sentido à vida)
Descobrir
a paixão de viver é algo que se alcança paulatinamente à custa de descobrir o
sentido das coisas, das pessoas, dos acontecimentos. Este sentido dificilmente
se descobre isoladamente. é necessário o diálogo e a comunicação existencial.
O grupo
de jovens deve possibilitar um relação "cara-a-cara", isto é, os seus
membros conhecem-se pessoalmente e têm uma relação directa, afectiva e
espontânea. É, portanto, um grupo reduzido de pessoas que partilham objectivos
e normas comuns.
O grupo
é o mediador entre a religiosidade institucional e a religiosidade pessoal.
É a
melhor forma de iniciação para o cristão que quer viver a sua fé a sério.
Um grupo
cristão caminha segundo o Projecto de Jesus Cristo.
Para que
um grupo possa crescer, tornar-se sólido e subsistir perante as dificuldades, é
necessário ter em conta alguns princípios fundamentais.
Relações
que não se baseiam numa mera simpatia, mas numa amizade conquistada pela
aceitação e respeito mútuos, pela confiança de uns para com os outros, pela
ajuda que procuram prestar, pelo esforço de partilhar cada vez mais o que são e
o que têm.
Abrir-se
à mensagem de Jesus Cristo e procura em conjunto da resposta a dar a essa
mensagem. Colocar-se numa atitude de conversão, revendo a sua vida em comum.
Para assegurar uma caminhada nesta reflexão, convém marcar um conjunto de
temas. Cada tema desenvolve-se a partir de um documento ou de uma lista pessoal
que se comenta entre todos e aí aparecem as interrogações da vida. Por vezes,
pode fazer-se a reflexão a partir de uma passagem evangélica ou de um facto que
aconteceu.
Orar
para celebrar e tornar consciente a presença de Jesus no Grupo para encontrar a
vontade de Deus e pedir força para cumprir. A oração pode ser sugerida pelo
tema que se reflectiu ou por algum acontecimento. Antes de cada reunião pode
rezar-se um pouco ou dedicar um encontro cada mês para isso.
Comprometer-se
na acção e pouco a pouco esse compromisso vai transformar-se num projecto de
vida, segundo valores que se vão assumindo.
É agente
na medida em que está a promover e desenvolver o jovem na educação da fé,
criando assim condições para uma integração progressiva na comunidade cristã, ajudando
também a descoberta vocacional.
É um
jovem que sente chamado a assumir na comunidade o serviço de orientar,
coordenar e de ajudar a crescer no processo comunitário que os jovens
escolheram. Tem mais consciência da realidade em que vive e do seu compromisso
com Cristo e com a Igreja. É capaz de entusiasmar e partilhar a fé com os
outros, procurando dar testemunho do Evangelho. Sabe acolher, respeitar e
inspirar confiança. Procura manter o acompanhamento pessoal para cada um. É
franco e simples e tem consciência das suas limitações e dos seus erros. É
participativo e deposita a sua força e confiança no Espírito.
É o
responsável pela comunidade cristã, onde também procurará ser um servidor e
amigo dos jovens. A Igreja pede "que ele atenda cuidadosamente aos
adolescentes e jovens". Terá como preocupação em relação à pastoral
juvenil os seguintes empenhos:
·
Integrá-la na pastoral orgânica e na tarefa evangelizadora
da comunidade;
·
Favorecer a realização da opção preferencial da Igreja pelos
jovens dentro da sua comunidade paroquial;
·
Preocupar-se com o assessoramento e a animação dos grupos
e comunidades juvenis;
·
Acolher e apoiar as iniciativas dos jovens; facilitando a
sua realização.
O
sacerdote tem um papel importante no trabalho de acompanhamento, de ajuda para
discernir a vontade de Deus, de guia na vida espiritual e na celebração dos
sacramentos. É um trabalho que deve realizar com os jovens e com os animadores
e dos grupos juvenis. Por isso, não pode concentrar todo o trabalho nas suas
mãos porque não terá disponibilidade de tempo e capacidade para fazer tudo.
Deve ter o bom senso de distribuir as tarefas, responsabilizando-se por aquelas
que dizem mesmo respeito à sua missão e tarefa específica de sacerdote. É a
única maneira de ter a comunidade cristã viva e dinâmica e dele, também, ser
uma pessoa dinâmica e capaz de ser o coordenador de todas as actividades
paroquiais, além de ser o estimulador e incentivador espiritual e pastoral.
Uma dos
problemas que enfrenta a pastoral juvenil é o facto de "as paróquias, em
geral, não são âmbito de evangelização e de experiência comunitária de fé para
a grande maioria dos baptizados.. Para ultrapassar esta limitação a paróquia
teria que ser uma autêntica comunidade de comunidades.
Esta
carência implica:
·
a ausência de uma comunidade que inicie os seus jovens na
vida comunitária.
·
a dificuldade daqueles que descobrem a dimensão
comunitária da Igreja no seu grupo e não a "materializam" na sua
paróquia, por falta de comunidade de referência.
A
mentalidade dos agentes da pastoral juvenil é também, por vezes, uma limitação
quando essa mentalidade é mais espiritualista e individualista que de
compromisso social, mais associativa que comunitária, mais sócio-política que
eclesial...
Como
vimos atrás, a pastoral juvenil deve levar a que o jovem viva em comunhão a sua
fé, integrando-se numa comunidade com as características de uma comunidade
cristã:
·
grupo carácter humano (adultos na fé)
·
e identidade cristã (centrada em Cristo, atenta a palavra
de Deus, em comunhão com outras comunidades)
·
que assumiu o programa de Jesus (Mandamento do Amor e
Bem-aventuranças)
·
que expressa e celebra a sua fé em Jesus ("sabe dar
razão da sua esperança", ora e celebra)
·
que se compromete na realização do Reino de Deus (dentro e
fora da comunidade).
Frequentemente
encontramos grupos de jovens que se reúnem apenas para "fazer coisas"
(actividades lúdicas ou mesmo litúrgicas) ou ocupam a maior parte do tempo com
elas. Quando isto acontece a dimensão "compromisso" está
sobrevalorizada e faltam as outras dimensões. Mesmo este compromisso existe não
porque foi descoberto como uma resposta mas apenas pela necessidade humana de
se sentir útil.
Um grupo
que vive apenas de "acção" corre o risco de não conseguir um dos
objectivos iniciais no processo de evangelização: a personalização da fé,
nomeadamente, porque não chegam a descobrir o que é ser pessoa ao estilo de
Jesus.
Não
queremos aqui desvalorizar as actividades que os grupos de jovens realizam, mas
antes equilibrar as dimensões em que se expressa um grupo de jovens.
Um outro
risco, de sentido contrário, é a ausência de ralação do grupo com a comunidade
dos seguidores de Jesus, nomeadamente com a paróquia que o acolhe. Embora a
eclesialiadade não se "meça" apenas por essa relação, quando um grupo
se fecha e não está disposto a ir ao encontro de outras comunidades ou grupos,
dificilmente descobrirá a riqueza da diversidade e a universalidade da Igreja.
Por
outro lado o grupo não se pode esquecer que é apenas um mediador entre a fé
inicial do jovem e a comunidade para a qual caminha. Mais cedo ou mais tarde o
grupo concreto em que está inserido tem que "morrer" para
"nascer" a comunidade. É a comunidade que inicia os seus jovens e por
isso o(s) animador(es) têm que se sentir enviados por essa mesma comunidade
(ainda que muitas vezes seja difícil de visualizar essa comunidade, como
dissemos atrás).
© Equipa Arciprestal da Pastoral
Juvenil de Barcelos
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