Dificuldades encontradas nos grupos (I)
- Instabilidade e falta de motivação -

 

O grupo de jovens como um grupo "primário"

O grupo de jovens deve possibilitar uma relação "cara-a-cara", isto é, os seus membros conhecem-se pessoalmente e têm uma relação directa, afectiva e espontânea. É, portanto, um grupo reduzido de pessoas que partilham objectivos e normas comuns que, ainda que não estejam escritas, são duradouras e importantes.

O grupo é o mediador entre a religiosidade institucional e a religiosidade pessoal. É a melhor forma de iniciação para o cristão que quer viver a sua fé a sério.

A primeira preocupação do animador de um grupo é, pois, que este "funcione" como grupo, isto é, que os seus membros sejam conscientes das suas relações e das suas responsabilidades recíprocas, que a comunicação seja de qualidade e leve a um aprofundamento, que o ambiente possibilite a partilha sincera e espontânea, que todos se sintam estimados e aceites.

O número óptimo para conseguir estas características está entre os 10 e 15 membros. À medida que se ultrapassa esse número é necessário haver "compensações":

·         "Programar" encontros pessoais entre todos os membros do grupo, para além dos espontâneos, para promover a mútua confiança e evitar a "desunião" do grupo.

·         Evitar a tentação de se contentar com a coesão conquistada e estar aberto aos novos membros, aos que estão em crise...

·         Programar momentos fortes, mais frequentes e mais intensos, para aumentar a coesão e superar as dificuldades de coesão.

·         É necessário, sobretudo, que o grupo fundamente a coesão não apenas nas relações pessoais mas também nos valores e objectivos comuns.

Crises e obstáculos

Um grupo é um ser vivo: passa por bons e maus momentos. Sofre crises de crescimento e dificilmente amadurece se não acontecem essas crises.

Eis alguns dos perigos ou dificuldades mais frequentes e algumas linhas de actuação:

a.       O grupo é visto como algo de entretenimento ocasional que facilmente se deixa por qualquer motivo. Os membros do grupo não estão identificados com o grupo.
É absolutamente necessário que haja uma fidelidade às reuniões do grupo, salvo excepções muito justificadas. Esta "obrigação" não pode ser imposta mas deve surgir dos próprios membros do grupo. Para isso, é necessário proporcionar elementos e estruturas que favoreçam a identificação dos membros com o grupo e que se sintam bem nele.

b.      O grupo tende a reduzir-se a um "grupo de amizade", ou um "grupo para fazer coisas", ou um "grupo de discussão de temas", ou um "grupo para desabafar os problemas", ou mesmo um "grupo de oração". O grupo é mais do que isto, mesmo que integre estas dimensões como elementos parciais do processo. Nestas situações é preciso provocar uma revisão sobre os objectivos do grupo para avaliar a sua realização.

c.      A tentação do "psico-grupo" em oposição ao "socio-grupo". O "psico-grupo" constitui-se em função dos problemas ou necessidades internas dos membros do grupo: bem-estar, boas relações, resolução de problemas psicológicos... Pelo contrário o "socio-grupo" constitui-se em função da realidade externa ao grupo. Os seus objectivos encontram-se fora do círculo grupal. O normal é que o grupo vá evoluindo do "psico-grupo" para o "socio-grupo", sem que nenhum destes aspectos se anule totalmente.

d.      O grupo fecha-se sobre si mesmo, porque os seus membros se sentem bem nele... Recusa-se a entrada de novos elementos para não romper a harmonia. Realizam-se actividades externas, mais como um necessidade psicológica de projecção do que como transformação da realidade e do grupo. É necessário romper com esta visão. Um grupo cristão é, por essência, aberto: para dentro permitindo a entrada de novos elementos; para fora no sentido de que o grupo deve ser a "rampa de lançamento" para a realidade externa ao grupo, para transformá-la e deixar-se interpelar por ela.

e.      Crise por falta de entendimento entre alguns membros do grupo. A crise é mais frequente em grupos mistos (rapazes-raparigas) e mais grave quando têm por origem desavenças afectivas. Normalmente, a única solução é saber esperar, mas ajudando os interessados e todo o grupo a relativizar o problema, a discuti-lo abertamente quando for razoável, e a subordiná-lo aos objectivos do grupo.

f.       Às vezes, alguns membros inibem-se, deixando que sejam sempre os mesmos a falar, a tomar decisões... Pode acontecer até que um ou dois assumam uma liderança absorvente ou tendam a neutralizar os outros membros do grupo. Cabe ao animador chamar a atenção do grupo ou dos interessados para o problema. Se bem que não se pode exigir a todos o mesmo grau de participação, há que conseguir que todos se comprometam e intervenham a partir da sua própria experiência.

g.       Pode-se esperar que o grupo proporcione o que é mais próprio de um grupo de amigos ou de um grupo desportivo...? O normal é que sejam diferentes tipos de grupo. A pessoa deve realizar-se em diferentes âmbitos, de trabalho, de diversão, de amizade... e de busca de sentido para a vida, que é o específico do grupo cristão. Também é certo que, à medida que aumenta a coesão do grupo aumenta também a relação afectiva, a necessidade de divertir-se juntos, de trabalhar juntos, de fazer projectos juntos... mas com uma clara hierarquização entre estas funções e sem cair na tentação de ser alternativa total aos outros grupo que satisfazem as diferentes necessidades da pessoa.


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